Carlston Harris: Da luta pela vida ao octógono do UFC
- Bernardo Passos
- 27 de dez. de 2024
- 5 min de leitura
Quando falamos em histórias de superação no mundo das lutas, poucos trajetos são tão inspiradores quanto o de Carlston Harris. Nascido na Guiana, ele saiu de casa aos 13 anos para ajudar a sustentar a família, enfrentou adversidades que moldaram seu caráter e encontrou no Brasil e no MMA a oportunidade de transformar sua vida. Hoje, Carlston é um dos grandes nomes do UFC, representando com orgulho tanto a Guiana quanto o Brasil.
Nesta entrevista exclusiva para o DESTAQUE Luta-Livre, ele compartilha os desafios de sua infância, a parceria com o Mestre Cromado e a equipe RFT, a trajetória até o UFC, e a preparação para enfrentar Santiago Ponzinibbio, um dos adversários mais experientes de sua carreira.
Prepare-se para conhecer a jornada de um guerreiro que prova, a cada luta, que não existem limites para quem sonha grande e trabalha duro.
Carlston, você saiu de casa aos 13 anos para se sustentar sozinho, algo que exige uma força incrível. Quais foram as maiores adversidades que você enfrentou nessa jornada tão jovem, e como conseguiu lidar com elas para seguir em frente?
"Eu saí de casa com 13 anos e comecei a trabalhar para ajudar minha mãe a alimentar meus irmãos. Na Guiana, a gente é forjado para enfrentar as dificuldades do mundo. Os pais criam filhos para o mundo, não para si. Então, sair de casa tão novo era algo normal. Eu e muitos outros passamos por isso. No começo, tive algumas dificuldades até me adaptar ao ambiente, mas não foi nada que não pudesse superar."
Crescer em meio a tantas dificuldades e começar a trabalhar tão cedo deve ter moldado muito o seu caráter. Como essas experiências influenciaram sua mentalidade dentro e fora do octógono?
"Eu cresci em meio a muitas dificuldades e vi muitas coisas boas e ruins. Minha mãe sempre nos ensinou que o que é nosso é nosso, e o que é dos outros é dos outros. Isso me ajudou a blindar minha mentalidade e a saber fazer as coisas do jeito certo. Essas experiências que acumulei ao longo dos anos têm me ajudado muito hoje, tanto dentro quanto fora do octógono."
O que motivou você a vir ao Brasil, e como encontrou no MMA uma forma de transformar sua vida?
"Vim para o Brasil em busca de qualquer oportunidade que pudesse mudar minha vida. Minha primeira parada foi em Manaus, onde morei de 2007 até o final de 2010. Trabalhei como mecânico e treinei Luta-Livre e boxe para sobreviver. Conheci o MMA pela televisão, quando assisti BJ Penn lutando pelo cinturão peso leve do UFC."
Como foi seu primeiro contato com o Mestre Cromado e a equipe RFT? O que essa parceria representa para sua carreira e sua evolução como lutador?
"Meu primeiro contato com o Mestre Cromado e a equipe RFT foi no final de 2010, por indicação do meu professor de Luta-Livre em Manaus, Júnior Lopez, quando falei que queria ser lutador de MMA. Cheguei à RFT entre 2010 e 2011, fui muito bem recebido e comecei minha carreira em 2011, sempre mirando no topo. Hoje, sou atleta do maior evento de MMA do mundo, o UFC."
Como surgiu a oportunidade de assinar com o UFC?
"Fui convidado para lutar no evento UAE Warriors, em Abu Dhabi, no dia 15 de janeiro de 2020, durante a pandemia. Fui chamado em cima da hora para lutar contra um aluno do Khabib. Mal sabia que o Dana White estava lá, gravando o programa Dana White: Looking for a Fighter. No dia da luta, quando pisei no cage e vi o chefe sentado à mesa, pensei: 'Agora é meu momento'. Lutei, finalizei o aluno do Khabib com um triângulo de mão, e depois da luta, o Dana White me contratou para o UFC. Foi a realização de um sonho."
Você enfrentará Santiago Ponzinibbio, um adversário muito experiente. Como está sua preparação para essa luta e o que você enxerga como os pontos fortes e fracos dele?
"Minha preparação está a todo vapor, muito intensa. Quero chegar a 110% para essa luta. Ele é muito experiente, tem um jogo completo, e eu não vejo pontos fracos nele. Mas percebi algumas falhas no jogo dele, que minha equipe e eu estamos trabalhando para explorar no dia da luta e buscar a vitória."
Qual é a principal abordagem que você está desenvolvendo para enfrentar o estilo agressivo do Ponzinibbio? Existe algo no jogo dele que te preocupa?
"Minha estratégia é segredo, irmão. Se eu revelar, vou entregar o plano de graça para o adversário. Sei que o Ponzinibbio tem um início de luta muito explosivo e uma agressividade absurda. Estamos trabalhando para impor meu jogo sobre a agressividade dele e pegar ele de surpresa. Só no dia da luta saberemos se o plano vai dar certo."
Como é representar a Guiana e, ao mesmo tempo, o Brasil no cenário mundial do MMA? Como você enxerga sua responsabilidade como inspiração para outros jovens de origem humilde?
"É a coisa mais justa a fazer. A Guiana é onde nasci, e o Brasil é o país que me acolheu e onde aprendi tudo sobre lutas. Por isso, represento os dois países. Não vejo isso como uma responsabilidade, mas fico feliz em saber que minha jornada está inspirando jovens e adultos no mundo inteiro. Quero mostrar que, com trabalho e fé, todos podem sonhar com um futuro promissor."
Desde que entrou no UFC, quais têm sido os maiores aprendizados? O que mudou no seu estilo de vida e no seu modo de treinar?
"Meu maior aprendizado foi como lidar com as derrotas. Hoje, consigo dar um pouco mais de conforto para minha família, e isso é gratificante. Meu modo de treinar continua quase o mesmo, mas sempre busco evoluir e ajustar meu jogo. No UFC, só tem lutadores de elite, e qualquer brecha pode custar caro."
Sua trajetória é uma verdadeira história de superação. Que mensagem você deixaria para jovens que, assim como você, enfrentam dificuldades, mas sonham em mudar de vida por meio do esporte?
"Sem desafios, não há vida. As dificuldades vêm para mostrar que nem tudo é belo como uma flor. É como as ondas no mar: altos e baixos. Mas, se você tem um sonho, mantenha o foco e trabalhe incansavelmente para realizá-lo, mesmo diante dos obstáculos."
Carlston Harris é o exemplo vivo de que determinação, disciplina e fé podem transformar vidas. Sua jornada, que começou na Guiana e ganhou força no Brasil, inspira milhares de jovens ao redor do mundo que sonham em vencer as adversidades por meio do esporte.
Agora, com foco total em sua próxima batalha contra Santiago Ponzinibbio, Carlston mostra que nunca deixa de evoluir, tanto como lutador quanto como ser humano. Representando dois países com orgulho e carregando no peito as lições de uma vida repleta de desafios, ele segue construindo um legado no MMA e provando que a superação é o maior troféu.
Fique ligado no DESTAQUE Luta-Livre para acompanhar as próximas conquistas desse verdadeiro guerreiro dos cages!
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